O delicado mashrabiya (muxarabi em português) ofereceu uma proteção eficaz contra a luz solar intensa no Oriente Médio durante vários séculos. No entanto, hoje em dia este elemento tradicional de janela islâmica, com sua treliça característica, é usado para cobrir edifícios inteiros como um ornamento oriental, proporcionando identidade local e um elemento de brise para resfriamento. Na verdade, arquitetos têm transformado esta estrutura vernacular de madeira em sistemas responsivos de luz do dia de alta tecnologia.
Jean Nouvel é um dos principais arquitetos que influenciou fortemente o debate sobre os muxarabis modernos. Seu Institut du Monde Arabe, em Paris, foi apenas o precedente a dois edifícios que ele projetou para o forte sol do Oriente Médio: A torre de Doha, que foi completamente envolvida com uma reinterpretação do muxarabi, e o museu Louvre Abu Dhabi com a sua cúpula luminosa.
Mais sobre muxarabis, a seguir.
O muxarabi antigo mescla aspectos culturais, visuais e técnicos. A tela da janela é frequentemente voltada para a rua para permitir a discrição e que o ar fresco passe através da fachada. A treliça oferece a oportunidade de ver o a rua, mas estando invisível - graças à alta intensidade luminosa exterior e a tela escura no interior. Do ponto de vista térmico, a estrutura tradicional aberta promove um bom fluxo constante de ar para esfriar o interior, além de recipientes com água potável armazenada. Artesãos desenvolveram habilidades especiais para montar as telas sem o uso de pregos - uma abordagem minimalista e delicada, que os modernos muxarabis de alta tecnologia muitas vezes a deixam para trás.
Vários edifícios mais recentes no Oriente Médio transformaram a técnica da janela oriental em duplas fachadas, para reduzir as cargas de refrigeração para o interior, como o Instituto Masdar, em Abu Dhabi, por Foster + Partners (2010) e a Torre Doha, no Qatar, por Jean Nouvel (2012). Com 200 metros de altura, a Torre Doha revela uma rica ornamentação em multi-camadas. O edifício apresenta uma identidade local e diferencia-se dos arranha-céus convencionais com sua fachada de vidro estrutural neutra. Quatro elementos em alumínio foram dispostos na Torre Doha em um padrão específico que responde ao norte, sul, leste e oeste com diferentes percentagens de perfuração. As subdivisões de pedaços muito pequenos foram determinados a fim de atingir um nível de detalhe para a fachada completa.
No Museu Louvre Abu Dhabi, Jean Nouvel traduz o vertical da tela em um elemento de telhado horizontal. Feita como uma cúpula comprimida, o edifício possui várias camadas de metal para otimizar o conforto térmico para os espaços. O Louvre Abu Dhabi vai incluir efeitos de luz cinéticos, como Jean Nouvel explica na entrevista ao The National: "A luz solar passa através de dois furos, então é bloqueada pelo terceiro. Mas isso logo muda à medida que os raios se movem e temos pontos de luz que aparecem e desaparecem, ampliam e encolhem... é um efeito cinético que é visível a olho nu porque em 30 a 40 segundos, você verá que um ponto fica maior e que outro desaparece."
No Institut du Monde Arabe (1987), Jean Nouvel realizou um novo desenho dinâmico da tela árabe vernacular. São 27.000 diafragmas sensíveis à luz que regulam a quantidade de luz que entra no edifício. Visível de uma distância próxima, o brise soleil metálico na fachada sul tem detalhes finos e precisos, semelhantes aos dos muxarabis tradicionais. No início, a estrutura pode aparecer como uma decoração árabe, mas suas funções derivam de filtrar a luz de forma dinâmica, dependendo da situação meteorológica específica.
O atual renascimento do muxarabi culminou em um sistema de tela sensível em grande escala em Abu Dhabi com as Torres Al Bahr por Aedas. A tela dinâmica solar sensível diminui o ganho solar das torres. De acordo com Aedes, o vidro matizado levemente reduz a entrada de luz do dia em todos os momentos e não apenas para situações de temperatura crítica. O sistema ainda inclui cerca de 2.000 módulos que se parecem guarda-chuvas, impulsionados por painéis fotovoltaicos.
Com o desenvolvimento do muxarabi antigo ao moderno,o papel da tela foi alterado a partir de uma camada de proteção contra a vista para o exterior a um elemento que atrai o observador do lado de fora. O desenho da fachada oriental, com seu sofisticado jogo de luz e sombra, profundidade espacial e detalhes finos, apresenta uma declaração clara para o enraizamento do edifício na história local, em vez de usar fachadas de vidro permutáveis. Além disso, sensores e tecnologia de dados modernos prometem manter os muxarabis relevantes no futuro, abrindo uma maneira fascinante de controlar de forma dinâmica cada pixel de luz, para obter o sombreamento e a atmosfera ideal.
Light Matters, uma coluna mensal sobre luz e espaço, é escrito por Thomas Schielke. Vivendo na Alemanha, ele é fascinado por iluminação arquitetônica e trabalha para a empresa de iluminação ERCO. Publicou numerosos artigos e é co-autor do livro "Light Perspectives". Para mais informações confira www.arclighting.de ou siga @arcspaces